Luana Schrader
Quase um ano depois, hoje eu reencontrei aquela pessoa que foi o meu quase final feliz, trazida pelo “mitológico” retorno do vento norte.
Há um ano a premissa era ótima, os personagens cativantes, a química entre os protagonistas era daquelas que qualquer leitor de romances anseia por viver.
Mas nem tudo é o que parece ser, e comprar um livro pela capa não nos garante uma boa história.
Ao menos foi o que a minha história de amor e horror me ensinou.
Querido diário, hoje eu o vi mais uma vez. Pode ser loucura minha, mas tive a impressão de que o universo estava recriando a cena de quando nos conhecemos, como se me desse uma chance de fazer uma nova escolha.
E eu a fiz.
Mesmo local, mesma época do ano, mesmas companhias. A química ainda estava ali, a atração fervia dentro de mim, mas dessa vez apenas assenti e desviei o olhar. Eu já sabia onde aquilo iria nos levar, afinal eu já havia caído na ilusão do príncipe do conto de fadas.
Mas deixa eu te contar o plot twist: Eu não o reconheci. Reconheci seu corpo, suas roupas e até o seu relógio. Mas o seu rosto era o de um desconhecido. Nos cumprimentamos e mesmo ele parado me encarando, eu não percebi que era ele. Eu apenas sorri educadamente e segui.
Essa é a sensação de ter superado uma decepção?
Essa história chega a ser cômica, mas quando me dei conta de quem era o homem em quem eu havia esbarrado, fiquei assustada com a minha memória, mas ri. Eu ri de mim, da situação e da vida. Como pode? Há menos de um ano eu chorava e sentia raiva, hoje? Hoje eu não sinto nada, como se fosse um grande buraco vazio.
E pensar que por um tempo eu desisti do amor e acreditei que todos iriam mentir para mim, preferindo escrever sobre amores trágicos.
Ah, as fases da vida… tão belas e mutáveis quanto as fases da lua.
Hoje, eu sei que ainda existem amores verdadeiros. Mesmo que eu não tenha encontrado a tal da alma gêmea, sinto o amor verdadeiro nas minhas relações mais próximas, nos amigos, na família e o mais importante: dentro de mim.
Hoje eu me senti vitoriosa, por escolher seguir em frente sem olhar para trás. Fechei o livro e continuei a escrever a minha nova história, aquela em que eu sou a protagonista e não aceito mais as coisas as quais já me submeti. Nem sempre o amor vai ser o suficiente, a não ser o meu próprio.
Suponho que o amor dele era apenas outra mentira, mas em meio às suas manipulações e dissimulações, mal sabia ele que estava me ensinando como eu não deveria ser amada.
Hoje, sou grata por ele ter sido quem foi, pois foi o que me ajudou a ver o que mereço. Ainda não sei o que quero, mas tenho plena consciência do que não quero.
O seu falso amor me destruiu e eu me reconstruí, renasci mais forte e mais dona de mim do que nunca.
O fogo aveludado que consumiu o nosso jardim do Éden, me reduziu a cinzas e como fênix, renasci. Mais forte e pronta para iniciar um novo ciclo, um em que não há espaço para mentiras e falsos amores.
Posso ainda ser a vilã nas histórias que meu contador de mentiras criou, mas sou a minha heroína.
Das quedas no penhasco que nos fortalecem, e dos falsos amores que não nos preenchem.